Nos idos de 2011
decidi me aventurar pelo maravilhoso mundo das distribuições Linux.
À época eu escrevia ativamente no Sleopand e em 2012 cheguei até
mesmo a escrever bastante sobre o assunto, inclusive com um tutorial
de como personalizar o LXDE e o deixar semelhante ao ambiente grĂ¡fico
Unity.
Meses depois eu
comecei a sentir dificuldades por conta da minha rotina profissional,
o que me levou de volta ao Windows. NĂ£o faço nada de extraordinĂ¡rio
no cotidiano, e trabalhando no ramo da comunicaĂ§Ă£o utilizo bastante
a suĂte Office, os programas Vegas e Sound Forge para ediĂ§Ă£o de
Ă¡udio e vĂdeo, alĂ©m de sempre recorrer ao pacote Adobe para ediĂ§Ă£o
de imagens em lote. À época que me aventurei sentia que a falta de
bons substitutos para esses aplicativos atrapalhava e muito minha
produtividade diĂ¡ria.
Eis que neste abril
de 2017 meu notebook que data de 2013 começou a se estranhar com o
jĂ¡ avariado Windows 7. Muitos erros no registro depois e sem grana
(e paciĂªncia) para fazer um upgrade
e instalar o Windows 10, decidi retornar ao glorioso universo Linux,
e as coisas evoluĂram muito nestes Ăºltimos cinco anos.
A
opĂ§Ă£o escolhida foi o Lubuntu 17.04, distribuiĂ§Ă£o derivada do
Ubuntu e que utiliza o ambiente grĂ¡fico LXDE como padrĂ£o. NĂ£o
necessariamente foi por conta da configuraĂ§Ă£o do notebook, que
consegue rodar o sabor principal da distribuiĂ§Ă£o com Unity sem
engasgos, mas sim por conta da minha familiaridade com o LXDE (e pela
similaridade com o Windows, o que me gera bem menos transtornos na
transiĂ§Ă£o).
Oi, meu nome Ă© Lubuntu :) |
InstalaĂ§Ă£o
Para
quem nĂ£o sabe, a instalaĂ§Ă£o de distribuições Linux Ă© bem
descomplicada. Meu Ăºnico trabalho foi queimar a ISO da “distro”
escolhida em um pendrive, colocar no computador e iniciar o processo.
É
algo tĂ£o simples que desde quando me aventurei pelo Linux na
primeira vez eu destacava: nada de instalaĂ§Ă£o de drivers
complicados pĂ³s-formataĂ§Ă£o ou ficar esperando programas
encontrarem os drivers da minha placa wireless e baixarem a uma
velocidade ridĂcula. Tudo estava funcionando muito bem logo ao
tĂ©rmino da instalaĂ§Ă£o.
Em
seguida abri o gerenciador de pacotes Synaptic (que funciona como uma
loja de aplicativos) para baixar o Chromium (navegador do qual o
Chrome Ă© derivado), Audacity (substituto do Sound Forge), Kdenlive
(substituto do Vegas), Scribus (aplicativo de diagramaĂ§Ă£o), Gimp
(autoexplicativo, mas se vocĂª nĂ£o conhece Ă© alternativo ao
Photoshop), Retroarch (front-end para agregar emuladores), Steam e o
LibreOffice.
Claro,
instalei ainda o pacote Restricted Extras, que traz alguns plugins
proprietĂ¡rios de Ă¡udio e vĂdeo, para evitar incompatibilidade de
formatos. Obviamente isso pode ser substituĂdo pela simples
instalaĂ§Ă£o do VLC, que roda absolutamente TUDO.
AdaptaĂ§Ă£o
aos substitutos
Bom,
o ambiente grĂ¡fico em si nĂ£o mudou muito desde a Ăºltima vez que o
havia utilizado. Os atalhos continuam nos mesmos lugares, entĂ£o dor
de cabeça Ă© algo que definitivamente nĂ£o tive. A minha maior
adaptaĂ§Ă£o tem sido aos substitutos dos aplicativos que usava
anteriormente.
Definitivamente
meu maior problema estĂ¡ no uso do Audacity. Enquanto no Sound Forge
eu conseguia separar diversos arquivos de Ă¡udio no mesmo ambiente de
trabalho e tratar separadamente cada um deles sem precisar abrir
outra instĂ¢ncia do programa, no Audacity isso Ă© praticamente
impossĂvel. Cada faixa precisa de uma janela nova aberta, e
o caos foi predominante nos primeiros dias de adaptaĂ§Ă£o.
Muita
gente usa o Audacity para ediĂ§Ă£o e publicaĂ§Ă£o de podcasts, e eu
admiro esses caras por extraĂrem leite de pedra, porque
definitivamente a interface dele nĂ£o colabora com quem Ă© acostumado
a utilizar outras soluções. Busquei algumas alternativas ao
programa, porĂ©m a maioria foi descontinuada, entĂ£o optei por me
manter nele e ir me adaptando aos poucos. Para a ediĂ§Ă£o de
entrevistas e Ă¡udios curtos tem funcionando bastante, porĂ©m
definitivamente abandonei os podcasts por um tempo (sim, este foi um
dos motivos do CoraĂ§Ă£o das Cartas ter parado).
A
ediĂ§Ă£o de vĂdeo, por outro lado, nĂ£o tem sido nada problemĂ¡tica.
O Kdenlive tem uma interface que lembra (bem pouco) a do Vegas. Como
nĂ£o uso nada de muito avançado nĂ£o sofro muito na usabilidade, e
tem me atendido de forma excelente. Outro ponto positivo Ă© que
apesar de usar muito do processamento ele nĂ£o esquenta demais o meu
computador, pois recentemente eu vinha travando uma violenta batalha
com o Vegas, que quase sempre esquentava meu notebook a ponto dele
desligar por conta da temperatura.
O
Scribus atĂ© entĂ£o foi um dos que me deu um pouco de dor de cabeça.
A redaĂ§Ă£o do jornal onde trabalho usa o InDesign pra diagramaĂ§Ă£o.
Como todo programa da Adobe, ele tem formato proprietĂ¡rio para
ediĂ§Ă£o, e que nĂ£o Ă© compatĂvel com o Scribus, obviamente.
Consegui me adaptar relativamente bem ao software alternativo, porém
nĂ£o posso mais fazer edições do meu computador pessoal, o que Ă©
um empecilho e tem me obrigado a concentrar a ediĂ§Ă£o no prĂ³prio PC
do trabalho. Como esta Ă© a menor parte da minha rotina, nĂ£o
incomoda tanto no fim do dia.
Quanto
ao Gimp, tenho sofrido um pouco com ele. Minha maior reclamaĂ§Ă£o no
inĂcio da dĂ©cada era o fato de ele funcionar em janelas separadas,
com cada opĂ§Ă£o espalhada pela tela. Era definitivamente um caos,
mas hĂ¡ alguns anos a equipe de desenvolvimento colocou o modo de
janela Ăºnica para funcionar, uma evoluĂ§Ă£o tremenda e que
definitivamente faz a diferença no meu cotidiano. Das edições que
tive que fazer nĂ£o encontrei muitos empecilhos, porĂ©m sofri com uma
grande perda de tempo ao trabalhar com ediĂ§Ă£o em lotes. O Gimp
corta corretamente todas as imagens, mas ainda nĂ£o encontrei um
jeito de carimbar em lote, e quando fui tratar uma galeria de mais de
50 imagens tive que mexer com elas uma a uma. No fim das contas
acabei dando a devida atenĂ§Ă£o a cada foto e tratando os detalhes de
cada uma, porém nos dias de maior correria atrapalha bastante ter
que ficar mexendo em item por item.
Sobre
o Chromium nĂ£o hĂ¡ muito o que falar. Muitas instituições tem
trabalhado para tornar suas aplicações compatĂveis com o Linux.
Entre as aplicações estĂ¡ a Netflix, que nĂ£o usava em 2011 mas
hoje Ă© totalmente usĂ¡vel. Lembro que quando fazia faculdade a
instituiĂ§Ă£o em que estudava fazia streaming das aulas ao vivo pelo
Silverlight, e nunca consegui ver as aulas de casa por conta da
incompatibilidade. Hoje nĂ£o estudo mais, entĂ£o nĂ£o sei dizer se hĂ¡
compatibilidade plena ou nĂ£o (atĂ© onde sei o plugin caiu muito em
desuso, e nĂ£o sei se ainda respira por aparelhos ou foi morto pela
Microsoft). Por falar em navegador, as distribuições geralmente vem
com alguma variaĂ§Ă£o do Firefox, porĂ©m sempre instalo os derivados
do Chrome pela maior compatibilidade com formatos proprietĂ¡rios.
Do
LibreOffice nĂ£o tenho muito o que falar. O programa tem evoluĂdo de
forma constante. Meu Ăºnico problema Ă© o espaçamento entre as
linhas no Writer, que destoa bastante do utilizado pelo Word, mas
nada que me tire muito tempo para mexer no dia-a-dia. Para
ser bem sincero, usava o Word com mais frequĂªncia no meu local de
trabalho, pois hĂ¡ anos nĂ£o tenho licença do Office da Microsoft e
usava mais o Google Docs em casa.
Games
Um
dos calcanhares de aquiles do Linux sempre foi relacionado aos jogos.
InĂºmeras foram as vezes em que li “nĂ£o tem jogo” como um dos
principais motivos para denegrir a plataforma, mas houve um avanço
significativo nesse sentido.
A
maior responsĂ¡vel por isso Ă© a Valve, com o SteamOS, que Ă© baseado
em Linux e tem incentivado muitos desenvolvedores a lançar seus
jogos em multiplataforma. Ainda faltam muitas opções? Sem sombra de
dĂºvidas, porĂ©m a maioria (senĂ£o todos) dos games que jogo estĂ£o
por aqui através da Steam. Stardew Valley? Confere. Chroma Squad?
Com certeza! Terraria? TambĂ©m estĂ¡ aĂ. Don’t Starve e Don’t
Starve Together? Absolutamente disponĂveis. HĂ¡ uma variedade de
tĂtulos da prĂ³pria Valve que sĂ£o compatĂveis com Linux, e tudo
isso disponĂvel atravĂ©s da Steam.
E esse pinguim, joga ou nem? |
A
minha biblioteca Steam nĂ£o Ă© relativamente pequena (tem 250+
tĂtulos disponĂveis), e os que uso com mais frequĂªncia com certeza
estĂ£o Ă minha disposiĂ§Ă£o com um simples clique, evitando a
necessidade da instalaĂ§Ă£o do Wine ou PlayOnLinux. Inclusive hĂ¡
sites que dĂ£o a opĂ§Ă£o de download de jogos diretamente pro Linux,
dentre eles o GoG.com. Este, aliĂ¡s, foi o principal para me manter
usando o Lubuntu, pois abrir
mĂ£o da minha biblioteca de jogos seria algo muito doloroso, apesar
de nĂ£o jogar com frequĂªncia no computador.
E,
como citei alguns parĂ¡grafos acima, instalei o RetroArch para
emulaĂ§Ă£o de jogos antigos. NĂ£o Ă© nada de extraordinĂ¡rio, pois jĂ¡
usava o aplicativo no Windows e sou bem familiarizado a ele.
Reconhece meus paralelos de Dualshock perfeitamente e possibilita
horas de diversĂ£o. No entanto, minha retrojogatina no PC diminuiu
muito desde a chegada do meu FunStation, entĂ£o se nĂ£o houvesse algo
tĂ£o intuitivo eu tambĂ©m nĂ£o enfrentaria problemas.
ConclusĂ£o
Anos
apĂ³s ter saĂdo do Linux, nĂ£o titubeio em concluir que hoje as
coisas estĂ£o mais fĂ¡ceis para o usuĂ¡rio final do que nunca. É a
opiniĂ£o de alguĂ©m que jĂ¡ era entusiasta da plataforma hĂ¡ algum
tempo e que nunca escondeu o descontentamento com a falta de opções
em alguns pontos especĂficos. Hoje, de volta Ă plataforma, posso
dizer que dificilmente vou utilizar outro sistema operacional em meus
computadores pessoais se depender Ăºnica e exclusivamente da minha
vontade.
Para
essa conclusĂ£o pesam diversos fatores, sendo o amadurecimento da
comunidade o principal deles, bem como a disponibilidade de soluções
que me satisfazem no cotidiano. Outro fator determinante Ă© nĂ£o
precisar piratear o coraĂ§Ă£o do meu computador. NĂ£o que eu nĂ£o
gaste com software. Minha biblioteca Steam e os aplicativos que
comprei no smartphone sĂ£o as principais provas disso, mas
nĂ£o pretendo desembolsar uma bela quantia pela licença do Windows
10, fora a tremenda falta de respeito que seria piratear o sistema e
os sofwares de uso profissional. As licenças que possuo permanecem
guardadas em seus devidos lugares para algum uso futuro, caso
necessĂ¡rio, mas sem sombra de dĂºvidas o Linux Ă© o sistema
operacional que passa a imperar no meu cotidiano.