Videogames portáteis voltados exclusivamente à emulação de
consoles antigos não são novidade no mercado. Posso citar aqui como principal
expoente disso o Dingo A320, que em 2019 completou dez anos de lançamento.
Nessa década, aliás, o mercado foi inundado com uma enxurrada de portáteis
chineses com praticamente a mesma proposta do Dingoo. Entre eles está o
Bittboy, que é vendido lá fora por aproximadamente 50 dólares e promete emular
até jogos de PlayStation. É com a análise deste produto que vamos inaugurar o
“Será se vale a pena?”, novo quadro do Multiverso Convergente. Vem comigo pra
descobrir nos próximos minutos se vale ou não a pena gastar alguns dinares no
produto.
Primeiro vamos à curta história do Bittboy. Lançado em
meados de 2018, o primeiro Bittboy era voltado a emular jogos de Nintendinho.
Ele tinha carcaça muito similar ao Gameboy DMG, porém era bastante colorido.
Lotado de jogos questionáveis e sem possibilidade de troca de arquivos, a
primeira versão do portátil não foi lá um sucesso de vendas.
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New Bittboy V2 - Foto: Multiverso Convergente |
Algum tempo depois foi lançado o New Bittboy. Mantendo o
mesmo formato do anterior, agora com cores que remetiam ao Gameboy original,
ele trazia um firmware atualizado, entrada para cartão de memória e
possibilidade de rodar jogos de Nintendinho, Gameboy e Gameboy Color. Foi aí
que o portátil começou a ficar famoso, pois os fabricantes enviaram dezenas de
unidades a youtubers e influenciadores digitais para analisarem o produto, até
então barato e de qualidade.
Não demorou muito até que fosse lançada outra revisão do
hardware, o New Bittboy V2, modelo que tenho em mãos atualmente. Não vou
continuar me estendendo muito por aqui, mas depois dele ainda saíram as
revisões V3 e V3.5, e já foi lançado o Pocket Go, sucessor espiritual do
Bittboy com visual inspirado no RS-97 e botões L e R.
Como eu falei no começo do post, emulação em portáteis não é
uma novidade, ainda mais em gadgets chineses. Mas o Bittboy lembra demais o
Gameboy, e por isso acabou caindo nas graças do público. Some isso ao fato de
que, a partir da V2, alguns desenvolvedores portaram o Dingux para o console, e
temos aí uma bela de uma compra por menos de R$ 300. Ao menos é o que todo
mundo esperaria, né?
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O Bittboy é menor que meu HD Externo - Foto: Multiverso Convergente |
Com proporções ridiculamente pequenas e tela de 2.4
polegadas e resolução 320x240, o Bittboy tem quatro botões de ação, sendo eles
A, B, TA e TB. Ele também tem um botão multifunção que deixa acessar as opções
dos emuladores, direcional, start e select. E quando eu falo em proporções
ridiculamente pequenas, é porque de fato o portátil é minúsculo. Ele é menor
que meu HD externo, por exemplo, e tem uma bateria pequena também, de 700Mah,
proporcionando no máximo três horas de jogatina contínua.
No conjunto vendido atualmente, levando em conta o firmware
mais recente até a publicação deste texto (a versão 3.9), o Bittboy roda
emuladores de Game Boy, Game Boy Color, Game Boy Advance, NES, Super NES,
Master System, Mega Drive, 32X, SG1000, PC Engine, Arcade (Mame), Neo Geo,
WonderSwan, PlayStation, DOS e Poké Mini. Acredito que não esqueci de nenhum
emulador aqui e, fora eles, ainda há alguns jogos que foram portados para o
console, como Cave Story, Doom, Quake e Streets of Rage Remake.
Desempenho
Não quero atropelar tópicos, mas diria que, pelo preço, o
Bittboy é bem decente. Dentre os emuladores que citei, ele tem bom desempenho
na maioria. Os problemas ficam na emulação do Nintendinho, Super Nintendo,
PlayStation e 32X. Os dois últimos são realmente bem pesados e não há o que
fazer para melhorar. Já o Super Nintendo não é de se espantar que tenha um
desempenho ruim por aqui, fora que o portátil nem tem botões suficientes para rodar
essa plataforma.
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O visual dos jogos na telinha fica impressionante - Foto: Multiverso Convergente |
Mas me surpreendeu muito negativamente o desempenho sofrível
em jogos de Nintendinho. Tive uma experiência péssima em alguns jogos como Mega
Man II, por exemplo, que tem vários sprites aparecendo o tempo todo na tela.
Não dá pra entender como houve uma regressão nesse sentido, já que a primeira
versão do Bittboy só rodava jogos de NES, e fazia isso muito bem, por sinal.
Também me surpreendeu, de forma positiva, a emulação do Mega
Drive. Funciona de forma perfeitamente fluida, mesmo em jogos como Streets of
Rage, que exigem bastante do console. Neo Geo também roda de forma ok, isso nos
jogos que rodam. Já a emulação do Mame é complicada pra mim até em computador,
então aqui não esperava que fosse diferente, o que significa que, se você está
procurando um portátil pra emular jogos de árcade, definitivamente o Bittboy
não é para sua pessoa.
Problemas
Novamente falando de preço, a fabricante do Bittboy teve que
fazer alguns sacrifícios pra poder tornar o emulador portátil o rei do
custo-benefício. A gente sente esses sacrifícios na pele, pois cada versão tem
um problema crônico, e isso vai desde a V2 até o recente Pocket Go.
Vamos começar com o problema que você vai encontrar em todas as versões do Bittboy desde a 2,
que é um fenômeno chamado lá fora de screen
tearing. Não consegui pensar em uma tradução exata para o português, mas isso
ocorre porque a tela do portátil roda com taxa de atualização em 30Hz, enquanto
os jogos são programados para rodarem em 60Hz. O que acontece, então? É comum
você ver na maioria dos jogos, principalmente de plataforma ou luta, listras
diagonais na tela. E em jogos com movimentação muito rápida, com bastante
sprites na tela, é mais comum ainda ver os sprites quase “derretendo”. Não
afeta o desempenho dos jogos, mas é um bug visual muito chato, e que até agora não foi corrigido.
Um bug presente apenas na V2 é chamado lá fora de ghost Keys. Esse problema ocorre ao
pressionar, simultaneamente, o direcional para baixo e os botões A e TA. O
console meio que reconhece essa combinação como se você estivesse apertando o
botão de reset e abre o menu do emulador, não importa qual esteja rodando. É muito
frustrante, principalmente em jogos de luta.
Na V3 e 3.5 o ghost
key foi consertado, porém li diversos relatos da tela preta da morte. Como
não há botões dedicados para aumentar ou diminuir brilho e volume, você faz
isso usando Select e apertando A e B (para volume) ou TA e TB (para brilho). Em
alguns casos, se você colocar o brilho no mínimo a tela simplesmente apaga e
não liga mais.
Já no Pocket Go ocorre o light
bleed, que é o vazamento de luz da LCD. Novamente um defeito visual, mas
também é muito frustrante. Some isso ao screen
tearing e você terá uma experiência muito
desagradável. Por falar nisso, o Pocket Go tem desempenho exatamente igual às
versões anteriores do Bittboy. É o mesmo hardware, apenas com formato
diferente.
Pra concluir, vamos falar de bateria. Acho que usei demais a
palavra frustrante, mas ela cabe aqui também. Não há um aviso do sistema de
quando a bateria está fraca. O LED simplesmente pisca vermelho e é isso aí, o
portátil desliga na sua cara. Quando aconteceu comigo foi extremamente
frustrante, e já me deixou com um sinal de “alerta”, e toda vez que jogo fico
salvando a cada cinco minutos.
Preço
Citei de forma bem artificial o fator preço nos tópicos
anteriores. Acredito que aqui irá ocorrer a decisão de comprar (ou não) o console,
caso você esteja em dúvida. No Aliexpress, o Bittboy pode ser comprado pelo
preço inicial de R$ 130, com frete grátis. No mercado nacional, especificamente
no Mercado Livre, encontra-se o emulador portátil a partir de R$ 300.
Se levarmos em conta a taxa padrão de R$ 60 e a taxa de R$
15 dos Correios, importar o Bittboy poderia sair R$ 223. Levando isso em conta,
pagar R$ 300 pra comprar já em território nacional parece aceitável. Confesso
que comprei o meu em terras tupiniquins mesmo e paguei R$ 399 por uma versão
com cartão de 32GB repleto de ROMs (o de fábrica tem apenas 8GB) e com alguns
mimos extras (fone, chaveiro e alguns outros brindes).
Vamos levar em conta aqui o preço padrão de R$ 300 no
mercado nacional, e com isso o Bittboy deixa de fazer sentido. Pelo mesmo preço
é possível encontrar um RS-97, que tem desempenho superior e não sofre de problemas
como o screen tearing. Ainda por esse
preço é possível comprar um Nintendo DS, um cartão R4 e ter acesso a uma
biblioteca enorme de jogos, mesmo abrindo mão de alguns emuladores – mas é
possível rolar até um emulador de SNES aqui.
A questão começa a ficar ainda mais complicada para o
Bittboy quando se faz necessário levar uma powerbank
na mochila ou bolsa se o seu plano é uma jogatina longa durante uma viagem de
ônibus, por exemplo. Ao menos o conector do carregador é micro USB, o que
significa que cabo e tomada pra ter carga não vão faltar.
Veredito
Agora tentamos responder à pergunta: será se faz sentido
comprar o Bittboy? Estou me esforçando pra não largar aqui o velho e já batido “depende”,
mas realmente tudo varia conforme seu ponto de vista.
Pra mim, o Bittboy fez sentido. Antes de compra-lo procurei
análises profundas e até mesmo entrei em grupos de discussão sobre o portátil,
para saber tudo sobre desempenho, problemas e etc. Isso significa que estava
ciente de tudo quando efetuei a compra, e não me arrependo.
Com esta análise, aliás, espero ajudar aqueles que estão
ávidos pelo aparelho (ou pelo sucessor, Pocket Go) e buscam mais detalhes – que
não são encontrados na maioria das análises em vídeo, onde, curiosamente, os
defeitos do Bittboy são deixados de lado.
Onde comprar?
Se você pretende importar, pode fazê-lo pelo Aliexpress
usando este link. Não, eu não ganho comissão por venda e este não é um link de referral.
Já se você quer comprar no mercado nacional pois não aguenta
esperar muito tempo, recomendo comprar por este link, com o pessoal da JotaDingoo. Também não ganho comissão por venda, mas o link que indiquei tem o
portátil com um cartão de 32GB repleto de ROMs, e a loja é especializada em
emuladores portáteis – eles estão na ativa desde o Dingoo A320, se não me
engano.
Conclusão
Ficou com alguma dúvida? Quer saber algo mais sobre o portátil? Pode deixar nos comentários! Também criei um grupo no Facebook para falar sobre o Bittboy. Você pode acessar por este link.
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